quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A dor na garganta naquele lugar era uma novidade.Como podia, assim, num vagão ter aquela dor tão dor, e tão sem motivo? Se ali descobrissem que ela estava com aquilo de novo, com aquela do Stevens na cabeça – se ela descobrisse que aquilo é ela e mais nada, que ela é tão romântica. Lutava contra isso: franzia a testa, torcia o nariz, olhava pro chão, se segurava ao ferro com tanta força, como se quisesse ser daquele mesmo jeito, frio, segurando todo mundo, mudo. Queria sair, chamar os amigos e ir à praia, ao campo, até às coisas mais bucólicas, aderir ao islamismo, ao cinismo, ao pragmatismo, aos ismos, usar as drogas de sessenta quase setenta e dormir. Pra ver se parava de pensar, se facilitava as coisas, se parava de perceber a garganta. De repente um intervalo de quarta descendente:
-“Estação-a-sua.”
Descia e continuava. “I hope you have a lot of nice things to wear”

Um comentário:

Fabrício Vieira disse...

cotidiano.

é sempre o mesmo trem, sempre a mesma estação, sempre o mesmo sempre; talvez faltava pra ela algo que lavasse sua vida de modo diferente, algo que a tirasse da mesmisse.

cara, se bem que dor na garganta é o primeiro sintoma de mulher malcomida.

sintoma, no mínimo, discutível.